Milhões de pessoas em Roma
Eu nunca hei-de compreender os fenómenos religiosos que roçam a histeria.
Temos a peregrinação dos muçulmanos a Meca, onde acorrem perto de 1 milhão de pessoas e que todos os anos provocam dezenas ou centenas de mortos, temos o banho sagrado dos hindus no Ganges onde também são habituais as tragédias e as peregrinações ao santuário de Fátima dos católicos. Quando o Papa o visitou esteve lá perto de 1 milhão de pessoas. E agora está p'raí um milhão de peregrinos em Roma e esperam-se uns 4 milhões para o funeral do Papa.
Nunca hei-de compreender o fenómeno que faz com que o fervor religioso, seja qual for a religião, mova as pessoas em massa a acorrer a este tipo de eventos, arriscando a sua integridade física e a dos outros. Na próxima sexta feira, provavelmente, Roma vai atingir o ponto de ruptura das infra-estruturas. Poderão faltar os cuidados médicos se houver algum episódio mais violento, poderá estar calor ao ponto de provocar inúmeros desmaios, insolações e desidratações pelas elevadas horas de exposição ao Sol. Os preços dos hoteis são exorbitantes e pode facilmente prever-se aumentos de bens como água mineral ou comida.
A maioria das pessoas foge das multidões, ou pelo menos alega que sim. Mas quando vem a religião ao barulho os números ultrapassam todas as expectativas (incluo os grandes jogos de futebol no rol dos fenómenos religiosos; afinal, há muitos adeptos por aí para quem o futebol é a sua religião). Será que os católicos não acharão melhor ficar em suas casas, em retiro espiritual, em comunhão, em oração, no que seja, em vez de apanharem um comboio ou avião para Roma para um funeral onde se esperam milhões de pessoas? Será que o seu próprio Deus não preferiria que as pessoas procurassem, em vez de se deslocar a Roma, cuidar daqueles que estão perto de si, praticando caridade, ajudando os necessitados, cuidando de familiares e amigos, em vez de se deslocarem a um evento que vai roçar os limites da histeria, se não os ultrapassar em muito?
Como disseram hoje no Jornal da Tarde, é preciso ser crente para compreender este tipo de fenómenos. Deve ser mesmo. Eu não compreendo.
12 Comentários:
o Super Arraial e considerado fenomeno religioso?
David
Cada um irá com motivações diferentes. Creio que não faria o meu género ir lá (faz mais o meu género estar na minha paróquia ou em casa a acompanhar discretamente), mas há entre os crentes (e os descrentes também!) quem goste de aglomerações. Eu, se necessário, tolero-as, mas prefiro um pouco de espaço e uma quantidade média de pessoas. Parece-me contudo que as peregrinações religiosas (algumas delas obrigatórias [Meca] ou fortemente recomendadas [Ganges]) e o despedir-se de uma personalidade conhecida da qual as pessoas gostavam muito são fenómenos diferentes. Estou certa de que houve muita gente nos funerais de JFK, de John Lennon, e de outros "internacionalmente famosos". É a minha modesta opinião.
Pois. Mas continuo a não perceber. O funeral do JFK também teve os seus contornos religiosos. Tal como os têm os cultos de Elvis, Marilin Monroe ou da princesa Diana. Continuo é a não perceber o fenómeno!
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bom, para tanta incompreensão também seria de estranhar logo duas duas astrologias no perfil
e tanta perplexidade pela existência de sentimentos de massas...
mas nisto, como tudo, há sempre o que não se compreende e gosta e aquilo com que se embirra sem se tentar perceber, não é?
12:38 PM
É caso para dizer: "Nha nha nha, eu posso fazer juizos precipitados e tu não!"
Chego à conclusão que posso dizer os disparates que me apetecer tirando sobre o Papa ou a religião católica. Bem, temos pena.
E só por curiosidade, embora não ache que tenha de dar satisfações a ninguém, sou ateu, já fui católico, não acredito em superstições ou astrologias de qualquer espécie. Tenho a indicação dos dois signos no perfil porque lhes acho piada. Até porque sou benfiquista e ter signo chinês dragão é um pouco embaraçoso. Mas isso é outra história
sobre o Papa?
e eu a pensar que não entendias o carácter místico de todos os efeitos de massas...
afinal só não entendes quando há luto por um representante da Igreja Católica.
Estas precipitações devem ter alguma explicação astrológica...
ainda por cima parece que também sou Dragão ":O)))
áh, e também sou benfiquista e portista ao mesmo tempo.
mas nunca cairia no disparate de comparar cultos pop com figuras políticas e muito menos com o Papa. Porque ídolos há muitos, políticos também, cientistas idem, contam pela obra, pela individualidade, pelo prazer ou admiração do que fizeram.
Mas nunca poderá um único deles fazer um balanço de algo que caracteriza a humanidade- capacidade de crença.
Zazie:
Prefiro não discutir no reino do disparate. Pelos vistos não tenho grandes hipóteses, por falta de expriência.
1. Se bem me lembro, não comparei o funeral do papa a cultos pop. A única coisa de semelhante será o carácter quase religioso com que algumas pessoas veneram figuras como a princesa Diana e outros que tais.
2. A única coisa que não percebo é o que leva 4 milhões de pessoas a juntarem-se num mesmo local, depois de a protecção civil dizer que Roma poderia atingir o colapso, que poderia não haver cuidados médicos, que poderia não haver água. Em Meca quando morrem umas centenas de pessoas nas peregrinações não falta quem os chame de fanáticos. E se tivessem morrido umas centenas de pessoas em Roma, cenário bastante plausível? Seriam mártires?
3. Dificilmente me convencem que a questão é puramente religiosa em relação ao funeral do papa quando 1 em cada 20 polacos fez 3 mil quilómetros para ir a Roma. 1 em 20. Serão os polacos assim tão católicos? Ou é apenas porque o Papa é polaco e existe, de facto, um culto de personalidade um bocado exagerado?
Este é o último comentário em relação a este assunto. Quem me conhece sabe bem quais são as minhas posições. Caro(a) Zazie, não me conhece de lado nenhum, tem as suas opiniões, com as quais não estou minimamente preocupado.
Então ainda bem que não está minimamente preocupado com as minhas opiniões. É que eu via aqui uma janelinha de comentários e imaginei que não servisse para se preocuparem com as minhas opiniões mas para a troca de opiniões na blogosfera.
Sorry, há coisas que parecem e não. Mysteries, mysteries, há tantos que nem o Freud conseguiria explicar. A natureza humana é um enigma. Com Papa, com multidões sem Papa, se multidões, com espíritos esclarecidos, com espíritos ignorantes. Arranjamos sempre maneira de desejar esmagar o “Outro”.
Inté, já vi que me o browser me levou a porto errado.
by the way: Zazie com e no fim: feminino em francês. neste caso nick= zazie dans le metro do Raymond Queneau. Nem tudo são mistérios, às vezes também não sabemos do que estamos a falar.
E ... a histeria do football, aliás, futebol?
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