Reza-se pelo Papa
Por todo o mundo milhões de fiéis rezam pelo Papa. Para quê? O homem tem 84 anos, já foi alvejado, teve cancro, tem Parkinson, sofreu uma traqueotomia e é alimentado por uma sonda naso-gástrica. Querem mesmo que Deus vos faça a vontade e lhe dê mais anos de vida? Imaginem lá a ironia que seria o Papa continuar vivo mas ficar vegetativo (e sem ser em coma). Teria a igreja a honestidade de defender para João Paulo II o mesmo que defendeu para a Terri Schiavo? Ou iriam retirar-lhe o suporte de vida para impedir que a igreja ficasse refém de um homem inconsciente que até à sua morte continuará a deter a autoridade? A sério, não rezem pelo Papa, deixem-no morrer descansado.
E também não vale a pena dizer que estão a rezar pela alma dele para ele ir para o céu. Ele é o PAPA! Se ele não for para o céu, quem é que vai? Não se esqueçam que o Papa é infalível. O que ele disser na Terra, Deus concretiza no céu. Por isso, se ele se lembrar de dizer "Eu vou para o Céu", vai mesmo. E se Deus não gostar, azar! Aaaaaaah, como eu aprecio os dogmas e preceitos da religião católica!
5 Comentários:
Haja alguém com a sensatez de dizer isso! O mundo é mesmo um sítio hipócrita! Mas a verdade é mesmo essa: o verdadeiro católico acredita no Paraíso e não deve ser egoísta ao ponto de rezar pela vida do Papa, uma vida passada em agonia. Os que assim pensarem não são católicos.
Um comentário ao autor e um comentário ao primeiro comentário.
Primeiro: não se reza para que se dê mais vida, a não ser que isso faça sentido, depende do que disserem os médicos; existe livre arbítrio e o homem não se safa com milagres contrários à lei da Natureza assim. Nem o próprio Cristo foi poupado ao suplício, não seríamos nós a "obrigar" Deus a mudar o Universo por nós mesmos. A oração é a nossa conversa com Deus, de momento rezamos por ele, pela Vida dele, desta vez no seu sentido completo, para que o Pai receba em Sua Casa, para onde aspiramos ir mais tarde. Como nós o Papa é homem e pedimos por ele, a fim de que possamos usar o seu exemplo para nós mesmos. Rezamos para que não sofra desnecessariamente, e, sobretudo, para que se cumpra a vontade de Deus. Não se pede o impossível, em que impossível implica o destruir da liberdade do mundo, da limitação do livre arbítrio, da interrupção do correr do mundo. Porquê mais com ele do que com os outros? Pedimos fé, coragem, amor, não pedimos um homem a sofrer mais ainda, quando o seu trabalho está completo. O que as pessoas possam dizer vem do sentimento, pois do que gostaríamos, seria que ele recuperasse todas as suas faculdades. Mas tal é pedir que a Terra deixe de rodar, ou que a constante de estrutura fina mude.
Quanto à comparação com a situação americana, acho prematura qualquer antevisão sobre o que faria a Igreja numa situação semelhante. Até porque, no caso da senhora, ele morreu de fome, porque não lhe quiseram dar mais comida. Não havia suporte especial. Ainda assim, não certamente com o mesmo desfecho, acredito, a Igreja teria de procurar soluções, pois Papa não é posto temporário, e muitos dependem dele, mais talvez que de outros.
A sua infalibilidade está centrada na sua acção de pastor, como condutor da Igreja, não se trata de dizer que ele não peca, pois isso seria dizer que ele é Deus, o que é falso. As suas atitudes como líder não serão erradas, mas aí também está o seu trabalho e de todos que com ele trabalham. Ele é livre de dizer as maiores barbaridades, como indivíduo é livre. Mas o seu esforço e a sua cautela são parte da solução. O Espírito Santo ajuda, mas não toma o seu lugar. A Igreja seria cega se achasse que o Papa não erra de todo, face à história da Igreja. Seja como for, o Papa nem sempre foi tido como infalível. A ideia tem origem no século XIII, nos franciscanos espirituais. Mas disso mais tarde, no meu blog.
Comento agora o comentário da Vera. A primeira frase perde significado com a refutação acima apresentada.
A segunda frase segue, com o devido contexto. Poderemos dizer que o que se passa com as orações pelo Papa se inclui no rol de actos que tornam o mundo hipócrita?
Aceito que acreditamos no Paraíso, mas doi sempre, a morte implica sofrimento. Quem não chora pelos seus? Quem não se sente mais sozinhos? E quem não rezaria pelos seus? Poderemos abandoná-los, ou pedir a Deus por eles é ser hipócrita? Rezar pela vida do Papa é como rezar pelo pai que temos, pelo nosso líder, pelo pastor das ovelhas. Pedir que seja feliz, que possa juntar-se aos santos no Paraíso, será mau? Então, rezamos porque acreditamos. Mas nunca nenhum homem poderá dizer que se salva, que não vale a pena rezar. Não há um homem que obrigue Deus a salvá-lo; seria estar ao Seu nível. Não. Há que rezar por todos, como iguais aos olhos de Deus.
Eis o que queria que ficasse registado.
Calma Gonçalo!
Eu imaginei logo que tu te ias passar com piadas ao Papa. Mas já sabes que eu acho que não há assuntos demasiado sérios que não se possa brincar com eles, pelo menos em certa medida. A comparação com a situação da Schiavo era um "supônhamos". "E se..." Somente isso. Eu percebo muito bem que se chore pelos seus, independentemente das circunstâncias. Sabes bem disso. Por mais calma e santa e livre de sofrimento que seja uma morte, é sempre a despedida definitiva de alguém, pelo menos da forma a que nos habituámos.
Contudo, a validade dos teus argumentos não impede o meu sarcasmo de fazer um pouco de paródia com qualquer situação que se me apresente. Seja a saúde do papa, seja uma comparação entre as esperadas mortes do Papa e Rainier com a Madre Teresa e a Diana, seja a dissolução do Parlamento, seja o que for.
Se eu quisesse falar a sério, colocaria a seguinte questão: "Quantos serão os católicos que choram neste momento pelo Papa e que não derramaram uma lágrima no Natal pelos mais de 280.000 mortos do tsunami na Ásia?" Contudo, não quis fazer um post sério ou bem fundamentado. Não quero vir para aqui despertar consciências. Limitei-me a fazer uma piada.
Concordo com o comentário ao meu comentário mas acho que, analisando bem as coisas, um não invalida o outro.
É claro que lamento a morte do Papa como lamento a perda de qualquer vida. No entanto, a razão diz-me que, no estado em que o Papa se encontra, não é a morte que é sinónimo de sofrimento, mas sim a continuação de uma vida de agonia. E é nesse sentido que acho que, pondo de lado a emoção, que leva todos a rezarem pelas melhoras do Papa, ele deveria partir e acabar com o sofrimento (sim porque, como católica, acredito que a morte vai acabar com a sua dor e não o contrário).
Ao Nelson, ao Gonçalo, e à Vera, mas também a todos os que lerem.
Nelson: sim, percebi que era sarcasmo, mas ainda assim apreciei muito o comentário do Gonçalo. Porque esclareceu pontos importantes. Explico melhor abaixo.
Gonçalo: vide acima. Sim, orámos para que tivesse uma boa hora, para que se cumprisse (e se cumpra, sempre) a vontade de Deus (o próprio Cristo o fez, haveremos de ser nós que professamos segui-lo a não o fazer?). E além disso, embora isto seja apenas a minha opinião pessoal, penso que podemos orar pela salvação das pessoas, não porque Deus vá mudar o curso da vida em função do número de orações feitas em favor da pessoa, mas porque se a Igreja é um corpo, a oração terá de ter um efeito em todos os seus membros. Mas isto é complicado de explicar...
Vera: Discordo do teu comentário por uma razão observacional: TODOS os católicos com quem falei, com quem contactei e mesmo os que vi na TV e ouvi na rádio (poderá ter havido outras entrevistas e reportagens que eu não vi onde não tenha sido assim) estavam a orar para que se cumprisse a vontade de Deus, e para que fosse aligeirado o sofrimento do Papa, e para que o Espírito o assistisse nessa hora inevitável e ele tivesse uma morte serena e o melhor possível. Não houve nenhum, e incluo parentes meus que costumam ser mais emocionais e menos racionais, que orasse pela recuperação dele. Já não era esse o tempo, embora todos nós o desejássemos não seria justo pedi-lo.
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