sábado, abril 02, 2005

Mitos sobre a Alemanha e os alemães

Hoje fui a Estugarda. O meu irmão e a minha prima foram apanhar o avião de volta para Lisboa (porquê Estugarda? Porque a Germanwings voa de Lisboa para Estugarda e custa metade do preço. Afinal, não sou rico. Esclarecidos?). Então, aluguei um carro e fiz-me à estrada (porquê alugar um carro? Porque os comboios são caros, os horários não dão jeito e sou rico :P). São 150 km para cada lado e a viagem serviu para esclarecer alguns mitos.

Mitos sobre a Alemanha e os alemães:
  • As auto-estradas na Alemanha não têm limite de velocidade
  • As auto-estradas na Alemanha são de muito boa qualidade
  • A manutenção das auto-estradas na Alemanha é excelente e o piso está em óptimas condições
  • Os alemães respeitam os limites de velocidade
  • Os alemães sinalizam as suas manobras, fazendo o pisca para mudar de faixa
  • Os alemães só mudam de faixa quando têm espaço suficiente para o fazer
  • Os alemães guardam as distâncias de segurança
  • Na alemanha circula-se na faixa da direita, usando as outras faixas apenas para ultrapassar
  • Na Alemanha a maioria dos carros são BMW, Audi, Mercedes e Volkswagen


De todas estas frases apenas a última é verdadeira! E mesmo assim, a percentagem de carros alemães é inferior ao que eu esperava. E os carros nem são assim tão bons, nem tão novos. A diferença está mesmo na gama, a maioria dos carros é de gama média/alta. De resto, a auto-estrada de Estugarda para Karlsruhe tem um traçado que faz lembrar o IP4 mas com piso pior. Há pelo menos 5 ou 6 descidas de 6% de inclinação ou mais e o piso está cheio de remendos. As piores auto-estradas portuguesas estão ao nível das piores auto-estradas alemãs e as melhores portuguesas ao nível das melhores alemãs. E mesmo a sinalização, sendo boa, não é nada de extraordinário. Basicamente aqueles 60 ou 70 km pareciam uma mistura entre o traçado do IP4 e o piso da A1 entre Santarém e Aveiras com obras e tudo.

Depois temos o famoso mito dos limites de velocidade. De facto, há auto-estradas sem limite de velocidade. Mas não são todas, nem sequer são a maioria. São só alguns troços. De resto, o limite de velocidade é, tal como na França quando faz sol, 130 km/h (na França o limite é de 110 km/h quando o piso está molhado). Além disso, eu que tentei respeitar os limites, andava a 130 km/h e estava a ser ultrapassado por todos os ligeiros que seguiam a 140, 150 ou mais ainda, mudavam de faixa em cima dos outros carros e sem pisca, seguiam colados uns aos outros e nunca encostavam à direita, mesmo quando haviam 500 m antes do próximo camião ou veículo mais lento.

Não era um comportamento universal, havia condutores que circulavam com mais respeito pelas regras. Mas a percentagem de condutores a conduzir "à portuguesa" era mais ou menos a mesma que se vê na A1.

A única grande diferença de comportamentos que notei foi a ausência de sinais de luzes quando alguém muda de faixa "à bruta" e a simpatia de encostar à esquerda quando um carro está na via de aceleração. Facilita-se a vida aos outros. Mas fora isso, senti-me perfeitamente em casa!

Já perto do fim da viagem resolvi parar na área de serviço para ir à casa de banho e descansar um bocadinho. E eis mais alguns mitos que foram por água abaixo:
  • Nas áreas de serviço na Alemanha não há lixo no chão
  • Os alemães lavam as mãos depois de mijar


O lixo na área de serviço (beatas de cigarro, maços de tabaco vazios, papéis vários) era o mesmo que se encontra em qualquer área de serviço em Portugal. E em relação ao bom hábito de lavar as mãozinhas depois de as meter em sítios "mais privados", enquanto eu lavava e secava as mãos saíram da casa de banho um grupo de 6 miudos e 2 adultos. Apenas um dos adultos lavou as mãos. Os outros devem ter pensado que não valia a pena a chatice.

Moral da história? Nem os alemães são assim tão bons nem nós assim tão maus. Os alemães acham que vivem no melhor país da Europa (se é alemão, é bom); os franceses acham que vivem no melhor país do mundo (se não for francês, é mau, a não ser que seja alemão); e os portugueses acham que vivem no pior país do mundo (se for importado é bom, a menos que seja espanhol). A grande semelhança entre estes três povos é que estão todos errados.