sábado, dezembro 04, 2004

Transformação política em curso?

Não! Desenganem-se.

Podíamos pensar que a dissolução do Parlamento e as eleições que vamos ter daqui a 2 meses, o aviso sobre boas moedas e más moedas do Cavaco Silva, e o facto de termos 5 partidos com assento parlamentar em vez de 4 como tínhamos até 95 (tou a "esquecer" os Verdes porque concorrem coligados com o PCP) eram o sinal de uma transformação política. Que íamos acabar com o governo de imagem do Santana Lopes e íamos passar a discutir ideologias, que estamos a caminhar no sentido do pluralismo, afastando-nos do bipartidarismo.

Mas, nestes últimos dias da moribunda Assembleia da República, assiste-se a fenómenos algo curiosos! Para já, que toda a gente tenha a noção que as verdadeiras razões para a aprovação ou não do OE são de natureza eleitoral. Se a maioria não o aprovar, a oposição vai acusá-los de paralisar o país (mesmo depois de vir dizer que não há condições para o aprovar); se o aprovarem, a oposição vai acusá-los de ter feito um mau orçamento. Então, do ponto de vista eleitoral, há que escolher o menor de 2 males.

Mas se houver dúvidas que em Portugal não há eleições em que se discuta ideologia, vejamos o seguinte: está na mesa (agendado para dia 17) um projecto de lei do PS (apoiado pelo PSD, contestado por todos os outros partidos) de alteração da lei eleitoral autárquica. A alteração até parece ser porreira. Passamos a votar apenas para as 2 Assembleias (municipal e de freguesia) e o presidente de câmara é escolhido como o 1º da lista vencedora. Ok, 2 boletins em vez de três, nada mau!

Só que, apesar de haver algumas câmaras de independentes, continuam a ser os principais partidos (PS e PSD) a dominar as respectivas Assembleias Municipais. Infelizmente não consegui encontrar os resultados (de forma legível) das últimas autárquicas. Se alguém tiver por aí perdido o mapa eleitoral de 2001 com as presidências de câmara e assembleias municipais, avise!

Moral da história: ganham PS e PSD, perdem BE, PP e CDS (ou melhor, não ganham). Assim é mais fácil perceber a posição "ideológica" de cada partido nesta questão. Não tem a ver com aprovações à pressa, ou importância de mudar a lei eleitoral. Tem tudo a ver com quem ganha e quem perde tendo em conta as últimas eleições.

Já agora, alguém tem esperança que possam haver em breve candidaturas independentes à Assembleia? E alguém tem alguma esperança que os candidatos passem a estar vinculados aos seus mandatos, em vez da situação actual em que os nomes das listas não são mais que meros indicadores de quem os partidos tencionam colocar no parlamento? E alguém tem alguma esperança que a disciplina de voto acabe? Eu não.